Por Silvia Marli*
O livro “Coronelismo, enxada e voto” teve sua primeira publicação realizada há mais de cinco décadas. Entretanto, é leitura obrigatória para todos que têm na política seu foco de interesse.
Victor Nunes Leal, advogado, doutor em Ciências Sociais e jornalista é o autor deste clássico da historiografia política brasileira, configurando-se como um dos maiores pensadores do chamado coronelismo, fenômeno característico da política nacional, cujos efeitos nefastos ainda hoje podem ser sentidos.
Na visão de Nunes Leal, o coronelismo não pode ser tido como um fenômeno simples, tendo em vista que abrange um complexo de características da política municipal, envolvendo a troca de proveitos entre o poder público e os chefes locais. Muito embora essa forma política atrofiada esteja vinculada à Republica Velha, muitas de suas práticas infelizmente ainda estão presentes na sociedade atual.
Os “coronéis” de outrora caricatamente representados nos folhetins televisivos, hoje estão revestidos de novas roupagens. Não mais vislumbramos, o típico latifundiário, dono de terras, padrinho de todos...Os coronéis modernizaram-se, usam a mídia a seu favor, estão em outras esferas de poder que não mais a grande propriedade de terra. Os domínios agora são outros, mas as práticas continuam muito parecidas com a dos tempos idos.
O propósito deste texto é identificar e analisar, mesmo que de forma breve, algumas características do coronelismo que ainda perduram no contexto político atual, numa tentativa de entender seus desdobramentos.
O clientelismo, prática que condiciona a concessão de favores ao voto do eleitorado é uma delas. Nele as lideranças locais, valendo-se da proximidade com os chefes do poder público barganhavam “benesses” – que não raro eram direitos do eleitor – mas que precisavam de “padrinho político” para serem alcançados, em troca do voto.
Na mesma esteira de exercício arbitrário de poder, só que em sentido oposto, tem-se o mandonismo, que nada mais é que a perseguição aos opositores políticos – concorrentes diretos/eleitores – onde o que valia era um dito bastante popular no meio político que diz que “aos amigos tudo, aos inimigos a lei”. Nesse bojo, ameaças, abertura de processos, perseguições políticas eram as práticas mais freqüentes.
A compra de voto manifestada de forma exuberante nas políticas eleitoreiras aparecia desde doação de alimentos, remédios até promessas de emprego. A resolução de conflitos e problemas burocráticos também figuram na infindável lista de concessões cuja moeda de troca era o voto. Esse era o momento da barganha: o eleitor dava seu voto porque já tinha conseguido alguma coisa ou porque ainda esperava recebê-la.
Quando a disputa se mostrava acirrada, as fraudes eleitorais eram uma forma de garantir a manutenção do grupo político que estava no poder. As manobras iam desde o momento de alistamento do eleitor até a coleta e apuração dos votos, pois os membros destacados para tal atividade eram, via de regra, ligados ao chefe político local. Não podemos esquecer que toda a logística eleitoral era patrocinada pela máquina estatal.
Nos dias atuais o coronelismo assumiu ares de modernidade. Embora sua gênese esteja nos pequenos municípios brasileiros, seus tentáculos alcançaram os grandes centros urbanos. Prova cabal disso é o que podemos chamar de coronelismo eletrônico. Dispor de um meio de comunicação assegura informação unilateral, quando não desinformação do eleitorado em prol do grupo dominante. Os novos coronéis, ao dominar ou ter influência direta sobre os meios de comunicação de massa, estão construindo verdadeiros latifúndios, embora em diferentes moldes, a exemplo do que acontece na Bahia e no Maranhão.
O coronelismo tal qual foi concebido por Nunes Leal, teve vigência durante a República Velha, mas é inconteste a permanência de práticas que lhe deram forma. Discutir a temática em todas as esferas sociais, desde a escola, família, comunidade, até o ambiente sindical é o primeiro passo para combatê-las.
Enfim, promover o debate possibilita o reconhecimento dessas práticas, bem como a formação de uma nova maneira de pensar que certamente irá de encontro ao fisiologismo que se caracteriza pela troca de favores ou benefícios individuais pelo cumprimento das ações públicas.
REFERÊNCIAS
FAORO, Raymundo. Os donos do Poder – Formação do Patronato Político Brasileiro. São Paulo: Globo, 2001.
LEAL, Victor Nunes. Coronelismo, Enxada e Voto – município e o regime representativo no Brasil. São Paulo: Alfa-omega, 1976.
* (1) Silvia Marli Tavares Santos é Oficial de Justiça Avaliadora da comarca de Governador Mangabeira, ex- diretora do SINPOJUD. Licenciada em História pela Universidade do Estado da Bahia-UNEB e Especialista em Ciências Humanas e suas Tecnologias pela Faculdade Internacional de Curitiba-FACINTER.
Victor Nunes Leal, advogado, doutor em Ciências Sociais e jornalista é o autor deste clássico da historiografia política brasileira, configurando-se como um dos maiores pensadores do chamado coronelismo, fenômeno característico da política nacional, cujos efeitos nefastos ainda hoje podem ser sentidos.
Na visão de Nunes Leal, o coronelismo não pode ser tido como um fenômeno simples, tendo em vista que abrange um complexo de características da política municipal, envolvendo a troca de proveitos entre o poder público e os chefes locais. Muito embora essa forma política atrofiada esteja vinculada à Republica Velha, muitas de suas práticas infelizmente ainda estão presentes na sociedade atual.
Os “coronéis” de outrora caricatamente representados nos folhetins televisivos, hoje estão revestidos de novas roupagens. Não mais vislumbramos, o típico latifundiário, dono de terras, padrinho de todos...Os coronéis modernizaram-se, usam a mídia a seu favor, estão em outras esferas de poder que não mais a grande propriedade de terra. Os domínios agora são outros, mas as práticas continuam muito parecidas com a dos tempos idos.
O propósito deste texto é identificar e analisar, mesmo que de forma breve, algumas características do coronelismo que ainda perduram no contexto político atual, numa tentativa de entender seus desdobramentos.
O clientelismo, prática que condiciona a concessão de favores ao voto do eleitorado é uma delas. Nele as lideranças locais, valendo-se da proximidade com os chefes do poder público barganhavam “benesses” – que não raro eram direitos do eleitor – mas que precisavam de “padrinho político” para serem alcançados, em troca do voto.
Na mesma esteira de exercício arbitrário de poder, só que em sentido oposto, tem-se o mandonismo, que nada mais é que a perseguição aos opositores políticos – concorrentes diretos/eleitores – onde o que valia era um dito bastante popular no meio político que diz que “aos amigos tudo, aos inimigos a lei”. Nesse bojo, ameaças, abertura de processos, perseguições políticas eram as práticas mais freqüentes.
A compra de voto manifestada de forma exuberante nas políticas eleitoreiras aparecia desde doação de alimentos, remédios até promessas de emprego. A resolução de conflitos e problemas burocráticos também figuram na infindável lista de concessões cuja moeda de troca era o voto. Esse era o momento da barganha: o eleitor dava seu voto porque já tinha conseguido alguma coisa ou porque ainda esperava recebê-la.
Quando a disputa se mostrava acirrada, as fraudes eleitorais eram uma forma de garantir a manutenção do grupo político que estava no poder. As manobras iam desde o momento de alistamento do eleitor até a coleta e apuração dos votos, pois os membros destacados para tal atividade eram, via de regra, ligados ao chefe político local. Não podemos esquecer que toda a logística eleitoral era patrocinada pela máquina estatal.
Nos dias atuais o coronelismo assumiu ares de modernidade. Embora sua gênese esteja nos pequenos municípios brasileiros, seus tentáculos alcançaram os grandes centros urbanos. Prova cabal disso é o que podemos chamar de coronelismo eletrônico. Dispor de um meio de comunicação assegura informação unilateral, quando não desinformação do eleitorado em prol do grupo dominante. Os novos coronéis, ao dominar ou ter influência direta sobre os meios de comunicação de massa, estão construindo verdadeiros latifúndios, embora em diferentes moldes, a exemplo do que acontece na Bahia e no Maranhão.
O coronelismo tal qual foi concebido por Nunes Leal, teve vigência durante a República Velha, mas é inconteste a permanência de práticas que lhe deram forma. Discutir a temática em todas as esferas sociais, desde a escola, família, comunidade, até o ambiente sindical é o primeiro passo para combatê-las.
Enfim, promover o debate possibilita o reconhecimento dessas práticas, bem como a formação de uma nova maneira de pensar que certamente irá de encontro ao fisiologismo que se caracteriza pela troca de favores ou benefícios individuais pelo cumprimento das ações públicas.
REFERÊNCIAS
FAORO, Raymundo. Os donos do Poder – Formação do Patronato Político Brasileiro. São Paulo: Globo, 2001.
LEAL, Victor Nunes. Coronelismo, Enxada e Voto – município e o regime representativo no Brasil. São Paulo: Alfa-omega, 1976.
* (1) Silvia Marli Tavares Santos é Oficial de Justiça Avaliadora da comarca de Governador Mangabeira, ex- diretora do SINPOJUD. Licenciada em História pela Universidade do Estado da Bahia-UNEB e Especialista em Ciências Humanas e suas Tecnologias pela Faculdade Internacional de Curitiba-FACINTER.
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