“Nada a temer senão o correr da luta, nada a fazer senão esquecer o medo.”
(Sérgio Magrão e Luiz Carlos Sá)
Vivemos um momento político e profissional pós-greve peculiar. Buscamos avaliar vários aspectos do nosso movimento, o que já foi registrado em outros textos da REDE, mas sentimos como se não tivesse esgotado os ângulos de observação, principalmente pelo fato do constante incômodo que paira sobre os servidores, gerando um torpor ao mesmo tempo traiçoeiro e desmotivador.
No atual estado de coisas, fazendo uma análise da nossa categoria, vemos uma parcela que só espera a hora da aposentadoria, afastando-se da desgastante labuta diária com a estrutura ineficiente, das partes insatisfeitas, das cobranças travestidas de “metas”. Por outro lado, temos uma parcela mais nova, que ingressou nos últimos concursos e que, por sua vez, acreditam num futuro profissional melhor longe do Tribunal de Justiça do Estado da Bahia. Ainda temos, por que não, um percentual de servidores que gostam do que fazem, mas igualmente sentem-se desmotivados em executar sua função.
Descobrimos a duras penas, que não somos ouvidos nem valorizados. Que os discursos falaciosos continuam a todo vapor e a hipocrisia reina em nosso meio. Essa amarga descoberta estimulou ações diversas entre nossos pares. De um lado, uns se desfiliaram pensando assim estar dando uma resposta à altura de tamanho desprezo tanto da empresa a que pertence, quanto da entidade sindical; por outro, recolheram as armas românticas e revolucionárias, para retornar ao estado perigoso e paralisante da acomodação. Não estamos criticando nenhum colega ou companheiro por isso, estamos apenas trazendo à consciência o estado em que nos encontramos a partir de um número razoável de manifestações, após a experiência de “peitar” uma greve onde servidores e diretoria não se afinaram e ainda, pela complexidade dos interesses conflitantes envolvidos no processo.
Retornamos então, à costumeira ação, pois, afinal, que motivação nos levará às assembléias, conselhos, congressos, se já sabemos antecipadamente quais as conduções, as respostas e ameaças que virão? Se já sabemos que nada sairá por vontade da categoria, mas de poucos que se impõem sobre ela?
É fato, a confiança entre servidores e diretoria foi abalada, mas também é fato que fugir da luta não é o melhor caminho, e vale lembrar que o melhor caminho muitas vezes não é aquele que nos oferece a saída mais rápida ou a resposta imediata. Temos toda uma caminhada a fazer, um processo de mudança para tocar, e nessa andança queremos estar ao lado de bons companheiros: íntegros, éticos, solidários.
Não é a primeira vez que o medo vence a esperança na nossa história sindical. Em outros tempos, fomos forçados a um exílio porque pensávamos diferente e isso incomodava a alguns. Depois de muitas tentativas e lutas, o silêncio imperou, as forças se esvaíram por faltar apoio dos companheiros que como nós, enxergavam também os acontecimentos, entretanto, preferiram não se envolver e se mantiveram, como tantos outros, tocando suas vidas, cultivando o velho e seguro individualismo. Tudo parece acontecer segundo a seguinte lógica: não preciso trazer esses problemas para mim; não tenho tempo para essas coisas, pois são muito desgastantes; o que ganho com isso?
Realmente companheiros, não é fácil. Não é fácil ser diferente, não é fácil fazer e pensar diferente; não é fácil fazer oposição, principalmente sem consciência de classe, sem ideologia e sem ternura.
Fortalecer as possibilidades de discussão da categoria é o caminho pra quem ficar nesse judiciário. Descentralizar assembléias, cobrar maior transparência no trato das questões da categoria, mesmo com toda a decepção vivenciada também. Não deixemos por conta de “heróis ou salvadores da pátria”. É preciso antes de tudo, humanizar as relações, sejam elas profissionais ou sindicais.
Somos categoria igual a qualquer um de vocês e é provável que não possamos estar em todos os movimentos da categoria: conselhos, assembléias, congressos ou outros eventos, por questões profissionais e materiais, e não tenham dúvidas de que isso será usado contra nós, mas o compromisso com a categoria permanece, pois acreditamos que a revolução começa pela idéia e esta não morre, nem mesmo se o revolucionário for abatido. Como diz o poeta: “sonhos não envelhecem”!
Movimento REDE
bons companheiros: íntegros, éticos, solidários.
ResponderExcluirÉ uma questionamento que faço desse movimento, será que nossos companheiro estam imbuídos de tanto carater e de boas intenções? Oxalá se isso fosse verdade. O que ficou claro para toda a categoria não foi isso, ser oposição é ter responsabilidade com a categoria, saber encaminhar em uma unica direção, buscando melhores para todos, deixando de lado vaidade, ambição, orgulho e desejos escusos que na verdade buscam mais satisfazer seus egos do que conquistas para a categoria.
Será que vcs não assimalaram isso ainda.
Fica registrado meu desabafo.
Caro anônimo...
ResponderExcluirPelo que postou no cometário posso perceber que a desilusão e o descrétito sobre tudo tomaram conta de você. Isso é perfeitamente normal numa trajetória onde poucos se destacam pela integridade, pela ética e pela solidariedade. Infelizmente essa é uma mazela da sociedade contemporânea e permeia todos os ambientes. Entretanto, acredito que ainda restam esperanças sim.
Gostaria de dizer que se somos oposição é por uma questão circunstancial. Nos últimos anos a falta de democracia é a tônica no nosso sindicato. A alternância de poder, extremamente salutar em qualquer processo não existe. Isso traz consequências sérias a nós, do movimento REDE - que nos intitulamos movimento somente por ter um gurpo que sente a necessidade de discutir as questões de nosso interesse, pois também somos categoria.
Uma outra questão é o fato de que não temos a pretensão de apresentar soluções para todos os nossos problemas profissionais. Para nós os caminhos a seguir precisam ser contruídos por todos e é essa justamente nossa busca: abrir um espaço onde possamos analisar o que nos aflinge e amordaça e buscar dias melhores.
Como humanos que somos estamos passíveis de erro. Por isso acreditamos numa construção coletiva....somente assim os acertos e erros serão de todos; as conquistas e responsabilidades também.
As práticas de cada um são as únicas testemunhas de cada índole. Não temos outra forma de avaliar ninguém.
No mais...estamos abertos para as discussões que precisam ser realizadas. E quem é quem só será revelado no decorrer do processo.
Silvia Marli