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sábado, 29 de maio de 2010

A VOZ DAS VÍTIMAS

Assistimos nos últimos 20 anos ao descaso progressivo das autoridades judiciárias com os servidores e com a máquina pública em geral. Longos anos de desleixo, ingerência, indiferença e má gestão dos recursos, colocaram o judiciário baiano na “louvável” posição de pior serviço judicante do país. O lodo dos privilégios sedimentou-se historicamente, formando uma crosta viciosa de concessões desonrosas para os justos. As disputas políticas internas de pequenos grupos, a incompetência administrativa de alguns gestores, fomentou a construção de um judiciário lento, ineficaz e insensível com as demandas da sociedade, eivado de vícios crônicos que nos colocam hoje numa lamentável posição de desconforto social. As feridas da ingerência tornaram-se tão expostas que o Conselho Nacional de Justiça nos últimos 03 anos montou acampamento na Bahia, numa nítida intervenção “oficiosa” em que juízes tornaram-se cumpridores de metas técnicas e os servidores “burros de carga”, pagadores de promessas não cumpridas, com a lata na mão, numa tentativa desumana de limpar a lama do poço, na esperança de que ainda possa brotar água limpa da nascente judiciária. Ao tocar nas feridas, o CNJ tem descoberto que o Judiciário baiano sofre de variadas e infindáveis doenças crônicas do serviço público, que vão desde ilegalidades (um contra-senso), corrupção, venda de sentenças, privilégios, má gestão, desvios éticos e morais, até o uso da máquina em proveito próprio. A justiça baiana é palco de um show de irregularidades, num espetáculo sofrível e patético para os nossos tempos, em que mais uma vez as vítimas do descaso – os servidores e a sociedade – precisam, como sempre cortar no próprio osso - pois a carne é sempre comida em outros escalões - para fazer enxertos corretivos nas fraturas expostas das vergonhas que agora se descortinam, pagando as contas do próprio algoz. Nesse momento delicado de assepsia moral, em que deveríamos formar um corpo uno, nos espanta o silêncio das instituições sociais (legislativo, OAB, AMAB, etc) e da própria sociedade, quando muito, apenas uma voz vacilante se levanta. Numa análise superficial, parece-nos que à beira do precipício, quando precisamos tomar a decisão de empurrar o corpo apodrecido, nos damos conta que precisamos dele para justificar nossos próprios desvios. A justiça ineficaz interessa a quem? A ponta do iceberg dos desvios morais começa a aparecer, o castelo dos privilégios começa a ruir. Nesse momento precisamos de mãos limpas para realizar a faxina moral a tanto esperada, devolvendo o judiciário baiano ao lugar de honradez e respeito de outrora, dando visibilidade, espaço e vez aos heróis servidores que conseguiram, nessa longa cruzada de desvios de conduta, manter-se nas trincheiras dos justos.

Joseval Campos

Feira de Santana, 27.05.2010

Cajueiro10@yahoo.com.br

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